domingo, 9 de agosto de 2009

S. João, por Fernando Pessoa

S. JOÃO

Ó Precursor, fizeste-la bonita!
Não que teu Cristo, incarnação do Bem
Não seja o teu Divino Anunciado.
O mal são os que após, sem mística divina,
Nem ternura cristã, ou só humana,
Meteram a Jesus na cela da doutrina
Com as algemas do ódio manietado
Para depois manchar de falsa fé
O pobre homem que todo homem é

A cruel multidão negramente infinita
Que tem sido o algoz ou o ladrão
Da ingénua humanidade aflita —
Esses que, aqui mesmo, pelos modos,
Dão ao inferno realização...
Ah, nem podiam ser piores, nem
Que a mulher do Diabo, se ele a tem,
Os tivesse parido a todos.

Eu bem sei que houve muito santo e crente,
Muito puro, bondoso e inocente.
Bem sei, bem sei:
Sei-o eu e sabe-o toda a gente.
Mas esses, cuja alma está em Cristo
São só isto -
Qualquer remédio que se dissolvesse
No chá que para isso há,
E cujo gosto nele se perdesse;
O chá fica sabendo só a chá.
Se o remédio faz bem,
Não o sabe ninguém.
Que o chá não presta, não duvida alguém.

Sabemos isso, e sabê-lo-ia antes
De todos nós o teu Mestre que viria,
Profeta, Deus e guia dos errantes.
Quão dolorosamente o saberia!
Sei que houve astros no céu da fé vazia.
Sei, mas repara que falso isso soa!
Por mais astros que a noite use brilhantes,
Que Diabo!, a noite não se chama dia.

Ó Precursor! Fizeste-a boa!

Deliro. Para nós, os de Lisboa,
Não és o precursor de nada.
És um rapaz ainda menino
Que tem por missão boa,
Por missão sorridente e sossegada
Ter ao colo um cordeiro pequenino.

Lá o que esse cordeiro significa
Não tem cheiro
Para o povo, que tem a alma rica
Da emoção que não conhece.
Para ele o cordeiro é um cordeiro,
E o menino sorri e a vida esquece.

O resto são fogueira
E os saltos dados a gritar
Com um medo exagerado
Feito tudo de maneira
A mostrar
O riso, as pernas e o agrado.

E quente e anónima a aragem,
Tudo é juventude e viço
Num arraial multicolor e vasto.
Bonito serviço
Como homenagem
A quem, ainda com cabeça, foi um casto!

Mas é assim que és
E é assim que serás,
Até que pisem esta terra os pés
Do último fado que o Destino traz.

Então, esperamos, eu e todos,
Ver-te «surgir no céu», como quem vence
Tudo que é realidade ou ilusão
Por o menino ser que lhe pertence
E os seus bons e santos modos
«Com o cordeirinho na mão»,
Como te viu Catulo Cearense.

Mas, desçamos à terra,
Que, por enquanto, o céu aterra,
Porque antes disso mete a morte.
Há muita coisa desconhecida
Na tua vida.
Tens muita sorte
Em ninguém saber da partida
Que em mil setecentos e dezassete
Tu fizeste à Igreja constituída.
Estavas, eu bem sei, cansado
Com o que a Igreja se intromete
Com tua vida e o teu divino fado.

E foi então que, para te vingar
E, à maneira de santo, os arreliar
Desceste mansamente à terra
Perfeitamente disfarçado
E fizeste entre os homens da razão

Um milagre arrojado,
Mas cuja assinatura se erra,
Quando em teu dia, S. João do Verão,
Fundaste a Grande Loja de Inglaterra.

Isto agora é que é bom,
Se bem que vagamente rocambólico.
Eu a julgar-te até católico,
E tu sais-me maçon.

Bem, aí é que há espaço para tudo,
Para o bem temporal do mundo vário.
Que o teu sorriso doure quanto estudo
E o Teu Cordeiro
Me faça sempre justo e verdadeiro,
Pronto a fazer falar o coração
Alto e bom som
Contra todas as fórmulas do mal,
Contra tudo que torne o homem precário.
Se és maçon,
Sou mais do que maçon - eu sou templário.

Esqueço-te Santo.
Deslembro o teu indefinido encanto.

Meu Irmão, dou-te o abraço fraternal.

9 - 6 - 1935

In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006
recolhido aqui

domingo, 8 de março de 2009

As filiações do Rito Escocês Rectificado

Nota: o Grande Priorado da Lusitânia foi criado em 1995.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

La Chose no martinezismo

La Chose en martinésisme définie par Vivenza et Amadou

Pour conclure un chapitre dédié à "la nature des travaux des Elus Coëns", Jean-Marc Vivenza dans son René Guénon et le Rite Ecossais Rectifié écrit ceci :

N'oublions pas, en effet, que l'objet même des travaux des émules de l'Ordre des Chevaliers Maçons Elus Coëns de l'Univers, fut précisément de se mettre en état d'appeler, dans leurs secrètes "opération", la manifestation de cette "Présence Divine", d'où les incessantes pratiques de purification qui étaient imposées aux frères de l'Ordre, la fameuse et mystérieuse "Chose" qui suscita tant d'interrogations et donna lieu, le plus souvent, à des commentaires hasardeux.

Il importe donc de comprendre, comme nous l'apprend Robert Amadou, si l'on veut pénétrer au coeur de la perspective coën, que "le Chose est , pour Martines de Pasqually ets es disciples, l'unum necessarium d'où tout découle et à quoi tout s'oriente. A quoi et à qui . La Chose est l'Ordre des élus coëns, c'est le Temple et tous symboles associés, par métonymie. La Chose est , en effet, pour récapituler, la présence de Dieu, son omniprésence, quand on suit les règles, sous des espèces hiérarchisées. La Chose est le Gloire, ou la Chékhinah, la Sagesse, la Sophia, de son nom technique, l'esprit bon compagnon, le Logos loquace et le Saint-Esprit vivificateur qui procède du Père et que le Fils envoie"(Introduction aux angéliques, CIREM, 2001).

J-M Vivenza , René Guénon et les Rite Ecossais Rectifié, Editions du Simorgh, Coll. L'esprit de la Maçonnerie, 2007, p. 56

Fonte

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

domingo, 18 de janeiro de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009